quinta-feira, 25 de agosto de 2016

TRISTEZA E DEPRESSÃO

José de Matos
Médico Psicanalista Psiquiatra

Muitas vezes, encontramos a depressão definida como uma grande tristeza. No entanto, para fins diagnósticos e abordagem terapêutica, deve-se entender melhor ambas as estruturas.

Na tristeza geralmente ocorreu uma perda à qual este sentimento decorre como uma reação. Nas perdas, menos significativas, o sentimento de luto é sentido como proporcional ao fato e não demora que se concorde com o adágio popular que diz que "vão-se os anéis mas ficam os dedos". Perder um objeto do qual se gosta, leva a uma certa sensação de "faltar algo" mas o próprio decorrer da vida, se encarregará de obter-se formas de superação e recuperação. Nas perdas mais significativas (e nesta situação incluem-se as perdas por morte), o sentimento de "faltar um pedaço" é bem mais forte. Pensando-se que guardamos arquivadas na mente, imagens acopladas a sentimentos, a falta por morte não é suficiente para "convencer a mente" que o objeto não mais existe. Qualquer sinal (uma porta batendo, ruídos de passos) pode recuperar a memória do objeto e seu sentimento, ressuscitando-o por instantes, criando uma ilusão, por segundos, que ele não se foi, para logo em seguida, haver o baque da realidade e a volta do sentimento de luto. Como se o luto fosse um processo de arrancamento gradual de cada raiz de memória e sentimento entranhado na mente. Por isso, pode ser um processo mais longo e penoso, até que se transforme em saudade.

Na depressão (denominada por Freud como melancolia) o problema é mais grave. A lesão de uma perda (que não se prende exclusivamente à morte), pode atingir camadas psíquicas bem mais profundas, causando uma verdadeira desarrumação psíquica. Digamos, no luto o objeto se perde no universo da vida ficando somente memória e sentimento como resquícios da ligação. Na depressão, o objeto se perde no universo do mundo interno, podendo manter-se com intensas cargas energéticas tumultuando todo o funcionamento do psiquismo. Por isso, diz-se que no luto, o mundo, por algum tempo, perde a graça e na melancolia o ego perde a graça e motivo para sobreviver. Por exemplo, a perda real de um personagem da vida, controvertido, vai mergulhar uma representação dentro do psiquismo com todos os paradoxos podendo, muitas vezes, transformar o morto num objeto morto/vivo interno.

Sem dúvida a psicofarmacologia evoluiu muito no tratamento das depressões mas a psicanálise pode ajudar bastante na elucidação do significado destas cargas emocionais controvertidas que, mortas/vivas continuam atuando no mundo interno.

Fonte: https://www.facebook.com/jotadematos/?ft[tn]=k&ft[qid]=6322932687262461137&ft[mf_story_key]=8638850184613696984&ft[ei]=AI%40aea692a29621a27465fbfb4fe7450ba0&ft[fbfeed_location]=1&ft[insertion_position]=1&__md__=1

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