domingo, 29 de novembro de 2015

Pacificação


Torna-te pacificador.

Onde te encontres, estimula a paz e vive em paz.

Os tumultos que aturdem os homens e as lutas
que se travam em toda parte poderiam ser evi
tados, ou pelo menos contornados, se os
homens mantivessem o espírito de boa vontade,
uns para com os outros.

Uma ofensa silenciada, uma agressão
desculpada, um golpe desviado, evitam conflitos
que ardem em chamas de ódio.

Confia na força da não-violência e a paz
enflorescerá o teu e o coração de quantos se
acerquem de ti.

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Vida Feliz

Ser feliz é uma responsabilidade muito grande...

Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me. Sou tão medrosa. Tenho medo de estar viva porque quem tem vida um dia morre. E o mundo me violenta. Os instintos exigentes, a alma cruel, a crueza dos que não têm pudor, as leis a obedecer, o assassinato — tudo isso me dá vertigem como há pessoas que desmaiam ao ver sangue: o estudante de medicina com o rosto pálido e os lábios brancos diante do primeiro cadáver a dissecar. Assusta-me quando num relance vejo as entranhas do espírito dos outros. Ou quando caio sem querer bem fundo dentro de mim e vejo o abismo interminável da eternidade, abismo através do qual me comunico fantasmagórica com Deus. 


Clarice Lispector -  'Um Sopro de Vida'

domingo, 8 de novembro de 2015

Olhe para o Alto


Conta-se que uma senhora, cujo trabalho exigia leitura constante, começou a ter dificuldades com os seus olhos, por isso foi consultar um especialista.

Depois de um exame, o profissional lhe disse: Seus olhos estão somente cansados; você precisa descansá-los.

Ela replicou: Mas isso é impossível, por causa do tipo de trabalho que eu faço.

Depois de alguns momentos, o médico respondeu: Tem janelas em seu local de trabalho?

Oh, sim, respondeu ela com entusiasmo.

Das janelas da frente pode-se ver os picos de montanhas distantes e das janelas dos fundos pode-se contemplar um belo e produtivo pomar.

O médico respondeu: É exatamente isto o que você precisa.

Quando sentir seus olhos cansados, olhe para as suas montanhas por uns dez minutos - por vinte minutos seria melhor.

Olhar para longe vai descansar os seus olhos!

* * *

Esse fato singelo pode nos trazer valiosos ensinamentos.

Se é verdade que no âmbito físico podemos descansar os olhos, olhando para longe, também pode ser verdadeiro para as questões espirituais.

Os olhos da alma muitas vezes estão cansados e fracos de tanto focalizar problemas e dificuldades.

Nesse momento, olhar à distância e para o Alto, vai ajudar você a restaurar sua perspectiva espiritual.

Às vezes você sente a sobrecarga das dificuldades da vida. No entanto, se voltar os olhos para Deus, poderá visualizar seus problemas na devida proporção e renovar suas forças e o seu bom ânimo.

Vamos, levante os seus olhos!

Quando as imagens dos problemas começarem a ameaçar a sua disposição para a luta, eleve o olhar e busque paisagens distantes.

Quando você vislumbra os obstáculos de um ponto de vista elevado, eles parecem menos ameaçadores e facilmente conseguirá superá-los.

Mas se os observa de um ponto inferior, eles assumem proporções gigantescas e paralisam a sua vontade de vencer.

Vamos lá... Desvie, por alguns minutos, seu olhar.

Olhe para a gigantesca força que habita o infinito azul, a quem chamamos Deus.

Pode ter certeza de que o socorro virá. Uma onda de tranquilidade lhe invadirá a alma e aplacará os seus olhos cansados.

E essa onda de harmonia facilitará a solução dos problemas.

Sua alma se aquietará e as dificuldades farão silêncio.

E nesse silêncio você ouvirá as respostas que o seu olhar cansado buscou no infinito.

Pense nisso, e quando os olhos da alma estiverem cansados, eleve o olhar ao Senhor da vida e nEle encontrará o alívio que busca.
* * *
Quando os dias frios e cinzentos do inverno cobrirem o seu olhar com as brumas escuras da tristeza, abra as cortinas do horizonte e contemple a primavera invencível, que logo recobrirá com tapetes perfumados os campos crestados pela invernia.

Quando as dores da alma ameaçarem a sua esperança, rasgue as cortinas do tempo e mire a face sorridente da eternidade a lhe dizer, como quem sabe a verdade: Esse dia de sombras também passará.

Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. Fep.
Em 27.06.2011.

Terra Sonâmbula - Mia Couto (Lindo!!)


Um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta serve de abrigo ao velho Tuahir e ao menino Muidinga, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra anticolonial (1965-75), o país do sudeste africano viu-se às voltas com um longo e sangrento conflito interno que se estendeu de 1976 a 1992.

O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga os "cadernos de Kindzu", o longo diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga, e, em flashback, o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra. 

Terra Sonâmbula - considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX e agora reeditado no Brasil pela Companhia das Letras - é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula, que nos ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é um elemento indispensável para se continuar vivendo.

Fonte: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12473