terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mensagem para um ano novo


Do médium José Carlos De Lucca:
compartilho a mensagem de Ano Novo que o Espírito Bezerra de Menezes me inspirou nesta manhã, para seus milhares de amigos da internet:


"Filhos amados: Estamos no limiar de um ano novo e nossa alma se enche de expectativas quanto às experiências positivas que nos aguardam. Embora seja isso uma aspiração tão humana quanto justa, gostaríamos de, humildemente, sugerir aos companheiros de jornada que reflitam que o tempo também tem expectativas positivas sobre nós. Todo tempo é tempo de Deus e seria um desperdício total gastar as horas dos novos dias no cultivo das lamentações, queixas, pessimismo, azedume e má vontade. Lembrem, meus filhos, que o tempo caminha para frente e por isso ninguém deve centralizar a vida nas horas que já se foram. A melhor maneira de aproveitarmos o tempo ainda é o trabalho, sobretudo o trabalho desinteressado em favor do próximo. Desejar aos meus filhos um feliz ano novo é desejar mais trabalho a todos, é desejar que olhemos mais na direção do próximo, é esperar que todos passem pelo tempo amando e trabalhando, e não simplesmente que o tempo passe por nós e nos encontre de mãos vazias e coração avinagrado. Para esses irmãos, o ano sempre será velho e a vida sempre um fardo difícil de carregar. Avancemos com Jesus, meus amados, pois com o Mestre a vida se renova a cada instante e o tempo se faz novo e feliz."

domingo, 28 de dezembro de 2014

Aparências


 por Hammed

“A árvore que produz maus frutos não é boa, e a árvore 
que produz bons frutos não é má; porque cada árvore se
conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos dos
espinheiros e não se cortam cachos de uva de sobre as
sarças...”
(Capítulo 21, item 1.)


Fugimos constantemente de nossos sentimentos interiores por não confiarmos em nosso poder pessoal de transformação e, dessa forma, forjamos um “disfarce” para sermos apresentados perante os outros.

Anulamos qualquer emoção que julgamos ser inconveniente dizendo para nós mesmos: ‘‘eu nunca sinto raiva”, “nunca guardo mágoa de ninguém”, vestindo assim uma aparência de falsa humildade e compreensão.

Máscaras fazem parte de nossa existência, porque todos nós não somos totalmente bons ou totalmente maus e não podemos fugir de nossas lutas internas. Temos que confrontá-las, porque somente assim é que desbloquearemos nossos conflitos, que são as causas que nos mantêm prisioneiros diante da vida.

Devemos nos analisar como realmente somos.
Nossos problemas íntimos, se resolvidos com maturidade, responsabilidade e aceitação, são ferramentas facilitadoras para construirmos alicerces mais vigorosos e adquirirmos um maior nível de lucidez e crescimento.

Não devemos nunca mantê-los escondidos de nós próprios, como se fossem coisas hediondas, e sim aceitar essas emoções que emergem do nosso lado escuro, para que possamos nos ver como somos realmente.

Por não admitirmos que evoluir é experimentar choques existenciais e promover um constante estado de transformação interior é que, às vezes, deixamos que os outros decidam quem realmente somos nós, colocando-nos, então, num estado de enorme impotência perante nossas vidas.

A maneira de como os outros nos percebem tem grande influência sobre nós. Amigos opressores, religiosos fanáticos, pais dominadores e cônjuges inflexíveis podem ter exercido muita influência sobre nossas aptidões e até sobre nossa personalidade.

Portanto, não nos façamos de superiores, aparentando comportamentos de “perfeição apressada”; isso não nos fará bem psiquicamente nem ao menos nos dará a oportunidade de fazer autoburilamento.

Deixemos de falsas aparências e analisemos nossas emoções e sentimentos, aprimorando-os. Canalizadas nossas energias, faremos delas uma catarse dos fluxos negativos, transmutando-as a fim de integrá-las adequadamente.

Aceitar nossa porção amarga é o primeiro passo para a transformação, sem fugirmos para novo local, emprego ou novos afetos, porque isso não nos curará do sabor indesejável, mas somente nos transportará a um novo quadro exterior. Os nossos conflitos não conhecem as divisas da geografia e, se não encarados de frente e resolvidos, eles permanecerão conosco onde quer que estejamos na Terra.

Para que possamos fazer alquimia das correntes energéticas que circulam em nossa alma, procedamos à auto-observação e à auto-análise de nossa vida interior, sem jamais negar a nós mesmos o produto delas.

Lembremo-nos de que, por mais que se esforcem as más árvores para parecer boas, mesmo assim elas não produzirão bons frutos. Também os homens serão reconhecidos, não pelos aparentes “frutos”, não por manifestarem atos e atitudes mascarados de virtudes, mas por ser criaturas resolvidas interiormente e conscientes de como funciona seu mundo emocional.

Somente pessoas com esse comportamento estarão aptas a ser árvores produtoras de frutos realmente bons.
Livro: Renovando Atitudes, capítulo 24
Autor: Hammed/Fco. Espírito Santo Neto

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Arrume suas gavetas




Uma vez li alguma coisa a respeito de uma garota que pedia para a sua avó a solução de um problema grave. A avó disse: "suba, arrume suas gavetas e após fazer isso você terá a solução".

Experimentei perguntar para as pessoas mais velhas se realmente existe uma conexão e perguntei certa vez para a minha avó o que tinha a ver a gaveta com os problemas e ela muito sabiamente me falou que a gaveta desarrumada é o espelho da vida, então toda vez que você está com alguma coisa bagunçada, alguma área de sua vida manifesta bagunça. Toda vez que você está com alguma coisa desorganizada, essa desorganização se reflete na sua vida.

Lembre: você é um reflexo de Deus, um reflexo do universo. Você tem um mundo dentro de si. Sua casa é um reflexo de seus estados emocionais. Se você tem dentro de si reflexo do mundo, quando está desorganizado interiormente, manifesta isto exteriormente.

Quando essa manifestação exterior veio antes, você pode reorganizar o seu mundo interno mostrando simbolicamente que está arrumando externamente.

O universo funciona assim: o que está dentro está fora. O que está em cima está embaixo. O que está de um lado está de outro. Então se você lembrar sempre que pode influenciar o interior com o exterior e vice-versa, você tem a chave para a organização total.

No momento em que você limpa a sua gaveta e joga fora aquilo que não presta, está reprogramando simbolicamente o seu interior. É uma das melhores chaves para conseguir serenidade e respostas para problemas muito difíceis. Aproveite e arrume suas gavetas. Com certeza vai ajudar você a encontrar solução para muitos de seus problemas.

REFLEXÃO: "Arrumes suas gavetas" no sentido figurado, não quer dizer que são somente as gavetas. Você tem se livrar de tudo que é negativo, incluindo as pessoas ao seu redor que não contribuem em nada para o melhoramento da sua evolução nesta existência. Sua carteira com dinheiro desarrumado, bolsa bagunçada, o porta-luva do carro cheio de coisas que não fazem o sentido de estar ali, o seu carro sujo e cheio de papeis de propaganda,garrafas plásticas de água mineral vazias jogadas no assoalho do veiculo. Seu local de trabalho virados de pernas para o ar.Tudo faz parte das gavetas da sua vida.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

É uma forma de paz.

"Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz..."

Clarice Lispector

******************************************************
Grande verdade!!! O ser humano não sabe ser amado.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Seja o Cisne

Roberto Shinyashiki

Talvez o maior desafio da vida moderna seja sermos nós mesmos em um mundo que insiste em modelar nosso jeito de ser. Querem que deixemos de ser como somos e passemos a ser o que os outros esperam que sejamos. Aliás, a própria palavra "pessoa" já é um convite para que você deixe de ser você. "Pessoa" vem de "Persona", que significa "máscara". É isso mesmo: coloque a máscara e vá para o trabalho. Ou vá para a vida com a sua máscara. Talvez o sentido do elogio "Fulano é uma boa pessoa", signifique na verdade "ele sabe usar muito bem a sua máscara social".

Mas qual o preço de ser bem adaptado?

O número de depressivos, alcoólatras e suicidas aumenta assustadoramente. Doenças de fundo psicológico como síndrome do pânico e síndrome do lazer não param de surgir. Dizer-se estressado virou lugar-comum nas conversas entre amigos e familiares. Esse é o preço. 

Mas pior que isso é a terrível sensação de inadequação que parece perseguir a maioria das pessoas. Aquele sentimento cristalino de que não estamos vivendo de acordo com a nossa vocação. E qual o grande modelo da sociedade moderna? Querer ser o que a maioria finge que é. Querer viver fazendo o que a maioria faz. É essa a cruel angústia do nosso tempo: o medo de ser ultrapassado em uma corrida que define quem é melhor, baseada em parâmetros que, no final da pista, não levam as pessoas a serem felizes. Quanta gente nós não conhecemos, que vive correndo atrás de metas sem conseguir olhar para dentro da sua alma e se perguntar onde exatamente deseja chegar ao final da corrida? Basta voltar os olhos para o passado para ver as represálias sofridas por quem ousou sair dos trilhos, e, mais que isso, despertou nas pessoas o desejo de serem elas mesmas. Veja o que aconteceu a John Lennon, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Isaac Rabin?

É muito perigoso não ser adaptado!

Essa mesma sociedade que nos engessa com suas regras de conduta, luta intensamente para fazer da educação um processo de produção em massa. A maioria das nossas escolas trabalha para formar
estudantes capazes de passar no vestibular. São poucos os educadores que se perguntam se estão formando pessoas para assumirem a sua vocação e a sua forma de ser. Quantos casos de genialidade que foram excluídos das escolas porque estavam além do que o sistema de educação poderia suportar.
Conta-se que um professor de Albert Einstein chamou seu pai para dizer que o filho nunca daria para nada, porque não conseguia se adaptar. Os Beatles foram recusados pela gravadora Deca! O livro "Fernão Capelo Gaivota" foi recusado por 13 editoras! O projeto da Disney Word foi recusado por 67 bancos! Os gerentes diziam que a ideia de cobrar um único ingresso na entrada do parque não daria lucros. A lista de pessoas que precisaram passar por cima da rejeição porque não se adaptavam ao esquema pré-existente é infinita. A sociedade nos catequiza para que sejamos mais uma peça na engrenagem e quem não se moldar para ocupar o espaço que lhe cabe será impiedosamente criticado.

Os próprios departamentos de treinamento da maioria das empresas fazem isso. Não percebem que treinamento é coisa para cachorros, macacos, elefantes. Seres humanos não deveriam ser treinados, e sim estimulados a dar o melhor de si em tudo o que fazem. Resultado: a maioria das pessoas se sente o patinho feio e imagina que todo o mundo se sente o cisne. Triste ilusão: quase todo mundo se sente um patinho feio também.

Ainda há tempo! Nunca é tarde para se descobrir único. Nunca é tarde para descobrir que não existe nem nunca existirá ninguém igual a você.

E ao invés de se tornar mais um patinho, escolha assumir sua condição inalienável de cisne!

Fique com Deus. Seja feliz... Sempre!!!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Organiza o Natal


Carlos Drummond de Andrade

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1972.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Amor pacífico e profundo!


Rabindranath Tagore

Não quero amor que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

   Dá-me esse amor freso e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.

Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração, 
na plenitude da paz!

domingo, 7 de dezembro de 2014

O recurso valioso da solidão


Como suportar a solidão sem padecer?
Há algo de bom que pode ser aprendido com ela?
Certamente todos nós já fomos visitados por este eclipse solar inesperado, ou estamos vivendo, neste exato instante, a experiência difícil.
Revisitemos uma especial passagem de Jesus, o Rei Solar, e aprendamos um pouco mais.
Após uma das jornadas habituais de Jesus, acercou-se-Lhe uma mulher, visivelmente aflita, e apresentou-Lhe, na mágoa que a machucava, os problemas que infelicitavam seu viver:
Meu esposo abandonou-me, injustificadamente, evadindo-se do lar e relegando-me à humilhação e ao desespero.
Desprezam-me as pessoas amigas, que se dizem felizes, considerando-me indigna de um companheiro.
Padeço a soledade ao lado de uma família que necessita de apoio e sofro uma dor pungente, indescritível, que já não suporto. Que fazer?
O Mestre fitou-a com a infinita ternura que Se lhe exteriorizava da face, e, buscando minimizar-lhe a pena, elucidou:
Todo aquele que sofre, não apenas se recupera de velhas dívidas, como adquire recursos morais que o credenciam para conquistas mais elevadas.
Solidão é recurso valioso de que se serve a Divina Lei, para que o homem adquira sabedoria e valor para dilatar o amor, sem as paixões que escravizam e entorpecem os sentimentos.
Além disso, quando alguém é relegado ao esquecimento, pode aquilatar das aflições que se acumulam nos solitários.
Razão, portanto, possuindo, para auxiliar e socorrer aqueles que se encontram em carência.
Alguém em regime de solidão, está em condição de oferecer apoio ao próximo, diminuindo as próprias penas, enquanto levanta o entusiasmo e a coragem no companheiro.
Assim, esqueça da dificuldade pessoal, reabastecendo-se de valor para não fracassar, nem desistir na luta que trava.
Todo investimento que se aplica em favor do próximo reverte em luz e segurança para todos os dias do futuro.
Jesus fitou a noite constelada...
* * *
As estrelas sempre nos convidam à reflexão.
Enquanto alguns se enxergam sós, perante um Universo tão grande e majestoso, outros se percebem amparados, como parte de um todo essencialmente bom.
A solidão absoluta não existe, pois ainda há esferas ao redor que não enxergamos, há razões que não entendemos, há amor que não sensibiliza nossa alma entorpecida.
A solidão dorida da Terra não dura para sempre, tenhamos certeza.
O fiapo de luar à distância, dá a falsa impressão de que a lua se encontra moribunda, extinguindo-se lentamente.
Todavia, sabemos que, logo mais, na próxima quadra, ela ressurgirá do outro lado da Terra, derramando prata e embelezando a noite, demonstrando que só a luz tem perenidade...
Redação do Momento Espírita com base no cap. 21, do livro
Pelos caminhos de Jesus, pelo Espírito Amélia Rodrigues,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.Em 14.10.2010.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Cuidado

"A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua, toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio."

Rubem Alves

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Não ignore a impermanência


por Chagdud Tulku Rinpoche 

Mais uma vez, não ignore a impermanência. O que quer que pareça ser prioritário em sua vida é, na realidade, bastante temporário. Vem e vai. Nada é confiável.

Nascemos sós e nus. Conforme a nossa vida se desenrola, passamos por todas as situações possíveis: necessitar, possuir, perder, sofrer, chorar, tentar… mas depois morremos, e morremos sós. Não fará a menor diferença se fomos ricos ou pobres, conhecidos ou desconhecidos. A morte é o grande nivelador. Em um cemitério, todos os corpos são semelhantes.

O nosso relacionamento com os outros é como o encontro casual de dois estranhos em um estacionamento. Olham um para o outro, sorriem e isso é tudo o que acontece entre eles. Vão embora e nunca mais se vêem. Assim é a vida – apenas um momento, um encontro, uma passagem, e depois acaba.

Se você compreender isso, não há tempo para brigas. Não há tempo para discussões. Não há tempo para mágoas mútuas. Quer pense nisso em termos de humanidade, nações, comunidades ou indivíduos, não sobre tempo para mais nada a não ser apreciar verdadeiramente a breve interação que temos uns com os outros.

Nossas prioridades mundanas podem ser irônicas. Colocamos em primeiro lugar aquilo que julgamos ser o que mais desejamos; depois descobrimos que o nosso desejar é insaciável. Pagar a casa, escrever um livro, fazer o negócio ser bem-sucedido, preparar a aposentadoria, fazer longas viagens – coisas que estão temporariamente no topo de nossa lista de prioridades, consomem nosso tempo e energia completamente e, então, no fim da vida, olhamos para trás e nos perguntamos o que todas essas coisas significavam.

É como alguém que viaja em um país estrangeiro e paga a sua viagem na moeda daquele país estrangeiro e paga a sua viagem na moeda daquele país. Quando chega à fronteira, surpreende-se ao tomar conhecimento que a moeda do país não pode ser trocada ou levada. Da mesma forma, nossas posses e aquisições mundanas não podem ser levadas através do portal da morte. Se confiarmos nelas, nos sentiremos, repentinamente, empobrecidos e roubados. A única moeda que tem qualquer valor quando viajamos pelo limiar da morte é a nossa realização espiritual.

Em um sentido mundano, é melhor nos sentirmos satisfeito e apreciarmos aquilo que já temos. O tempo é muito precioso. Não espere até estar morrendo para compreender a sua natureza espiritual. Se fizer isso agora, vai descobrir recursos de bondade e compaixão que não sabia possuir. É a partir dessa mente de compaixão e sabedoria intrínseca que você pode beneficiar os outros.

O progresso espiritual começa quando resolvemos, seja cuidadoso. Se você colocar-se no lugar do outro, vai perceber o quanto é destrutivo ferir ou matar qualquer ser, ainda que seja um inseto. Todos os seres querem viver. Se você cuidar dos outros com essa perspectiva, fechará as portas para o seu próprio sofrimento.

A mente é com um microscópio. Amplia tudo. Se você critica-se o tempo todo – “sou tão pobre, não sou suficientemente alto, meu nariz é grande demais” – se concentra a atenção em todas as suas inadequações e misérias, elas só piorarão até que, em desespero, você fique prestes a desistir de tudo.

Em vez de dizer: “sinto-me detestável. O que devo fazer?”, pense no sofrimento dos outros e gere compaixão. É muito importante, realmente, ver o sofrimento, prestar atenção no caixa do banco que está atormentando, no velho pálido e cansado que arrasta os pés pela rua, na criança que chora infeliz. Veja a profundidade do sofrimento e a partir daí dimensione o seu próprio sofrimento. Os outros estão doentes, estão imersos na guerra e na fome, estão morrendo.

Compaixão é o desejo fervoroso de que todos os seres, sem exceção, encontrem a liberação do sofrimento, desde o seu pior inimigo até o seu melhor amigo. Para desenvolver uma compaixão genuína que inclua todos, primeiro exercita a compaixão com aqueles que lhe são próximos; depois estenda-a aos desconhecidos e por fim a todos os seres por todo o espaço.

Depois direcione o seu desejo para a felicidade deles. Como a felicidade vem apenas da virtude, deseje que qualquer felicidade que os outros possam ter alcançado, em função de suas virtudes passadas, possa nunca diminuir ou ser perdida, e que possa aumentar sempre, até que alcancem a felicidade infinita e imutável. Esse desejo pela felicidade dos outros é o significado verdadeiro de amor. Regozijar-se com qualquer extensão de felicidade que os outros possam ter, traz uma alegria ilimitada à nossa própria existência.

Reconheça sempre que a qualidade onírica da vida e reduza o apego e a aversão. Pratique o bom coração em relação a todos os seres. Seja amoroso e compassivo, não importa o que os outros façam. O que fazem não importará muito quando visto por você como um sonho. Esse é o ponto essencial. Essa é a verdadeira espiritualidade.

Se você usar manto, raspar a cabeça, rezar de joelhos todos os dias, e ainda assim se tornar mais raivoso, orgulhoso, rígido e difícil de lidar, não estará praticando a espiritualidade. Você precisa praticar a essência, que é a compaixão e o amor altruísta, e a partir daí tentar ajudar os outros da melhor maneira que puder. Use todos os seus cursos de corpo, fala e mente. Esse é o método. Seja você cristão, hindu, judeu ou budista, a compaixão e o amor são os mesmos. A vitória sobre as falhas e delusões leva à vitória sobre a morte. Meu desejo para cada um de vocês é que alcancem as qualidades de compaixão e sabedoria e o supremo e imortal estado de iluminação.

Texto do livro “Vida e morte no budismo tibetano”, por Chagdud Tulku Rinpoche.
Fonte: Buda Virtual
Pequei esse texto http://www.espiritbook.com.br postado por Nilza Garcia