terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Natal sem minha mãe (saudades!)

Falamos de amor tantas vezes, mas confundimos tudo quando tentamos analisar nossos sentimentos confusos, possessivos e efêmeros. Poucos de nós conseguimos vislumbrar um verdadeiro amor,  porque amar só se aprende amando e o nosso exercício de amar envolve posturas tão doentias e viciosas que em vez de do nos aproximarmos de sua verdadeira prática nos afastamos cada vez mais dela.
Com essa proximidade do Natal, o primeiro sem minha mãe,  tenho pensado em tudo que ela me ensinou. Uma pessoa tão simples!! Um olhar distante observaria poucas possibilidades de poder educar ou ensinar bem as coisas necessárias para vencer no mundo. Mas olhando com o coração podemos ver o poder de educar e ensinar as coisas necessárias para vencer o mundo: o amor e a resignação. Lições inesquecíveis!
Sem ela eu não teria ido tão longe com essa  minha história de vida tão bagunçada!
Imagine que desde o primeiro segundo eu já aprendi muito sobre a vida, pois por ocasião do meu nascimento a minha mãe biológica morreu no parto, em uma fazenda distante de qualquer socorro, e na aflição para conseguir salvá-la a parteira apenas me pegou e colocou em uma rede próxima de onde ela, minha mãe biológica,  estava. Só sete horas depois de tudo consumado foi que a minha tia perguntou: e a menina?!  Essas sete horas de silêncio e abandono têm um reflexo  muito importante na pessoa que sou hoje. Talvez não tenha sequer conseguido sair delas ainda.
Depois disso fiquei com meus vós maternos, porque eles não permitiram  que meu pai me desse a um estranho. Mas como eles não tinham tempo para cuidar de mim,  chamaram uma pessoa para ser minha baba. Digo chamaram porque era um tempo que não se contratava uma baba, mas apenas se chamava uma filha de um morador da fazenda para trabalhar sem salário, só por roupa e comida. Foi nessa ocasião que a minha mãe entrou em minha vida. A partir daí ela passou a servir, a vida inteira,  a uma família extremamente ingrata, sem receber nenhuma remuneração e nenhuma gratidão, mas com uma fidelidade e um amor incomparável. Cuidou de mim com tanto amor, com tanto carinho que nem a minha mãe biológica teria conseguido,  já que ia ter outros cinco filhos para se preocupar se viva fosse. Foram inúmeras as noites em claro comigo, principalmente quando tive poliomielite e fiquei ano e meio sem andar. Sempre ao meu lado nas  lutas e nas dificuldades, que não foram poucas.
Certa feita, ela já com 70 anos, por ocasião da sua primeira internação em um hospital, ela me contou uma história que me marcou para sempre. A história de uma prova de amor silenciosa. Ela falou,  que nos primeiros anos de minha infância, a mãe dela adoeceu  e como ela, a mãe,  morava distante ela teria que me deixar e ir embora para cuidar dela. Ela disse que viveu um grande dilema, pois amava muito a mãe dela , mas ao mesmo tempo que me via tão frágil, tão pequena e tão só não tinha coragem de partir. Isso me lembrou “a escolha de Sofia”. Ela continuou contando que optou por mim, mas a vida inteira até aquele momento carregava uma culpa muito grande no coração por não ter cuidado da mãe.
A minha mãe foi o maior exemplo de amor e renúncia que conheci. Me sinto honrada e grata a Deus por ter tido a oportunidade de ter sido tão amada.
Mas ela  me deixou  a imensa  responsabilidade de amar diferente sem sentimento de posse, sem necessidade de cobrança, amar sem esperar nada em troca, amar com a grandeza de um coração capaz de perdoar e esquecer as dores da alma.
Sempre no natal ela cantava a música noite feliz inteirinha...
Espero que onde ela esteja nesse natal possa cantar noite feliz para muitos,  já que antes na nossa jornada solitária ela cantava só para mim...
Áurea Ribeiro

3 comentários:

  1. lindo texto, linda a sua mãe! Sei o que é exemplo materno, minha mama me deixou faz 1 ano e 10 meses... O vazio é grande, mesmo eu sendo casado e tendo uma filha... DEUS te abençoe!

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  2. lindo texto, linda a sua mãe! Sei o que é exemplo materno, minha mama me deixou faz 1 ano e 10 meses... O vazio é grande, mesmo eu sendo casado e tendo uma filha... DEUS te abençoe!

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  3. Fernando Maringo, muito obrigada!
    Mãe faz falta, muita falta mesmo, mas eles continuam do outro lado orando e cuidando de nós.Abraços. Áurea

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