segunda-feira, 6 de outubro de 2014

CIZÂNIA

Joanna de Ângelis

Os lexicógrafos definem a cizânia como sendo "rixa, desarmonia, discórdia entre pessoas de amizade."

A cizânia constitui, pela sua própria estrutura, adversário ferino da obra de edificação do bem, onde quer que se manifeste. Parte integrante da personalidade humana, o espírito da cizânia facilmente se instala onde o homem se encontra. Estimulada pelo egoísmo, distende com muitas possibilidades as suas tenazes, surpreendendo quantos incautos se permitem, por invigilância, trucidar.

Soez, persistente, contínua, a cizânia, ao manifestar-se, divide o corpo coletivo em falsos grupos de eleição, que logo se entredisputam primazia, estabelecendo o combate aguerrido e franco sob os disfarces da pusilanimidade ou da simulação.

A cizânia deve ser combatida frontalmente onde quer que o bem instaure o seu reinado. Para tanto, faz-se mister que cada membro ativo do grupo da ação nobilitante compreenda o impositivo da humildade. Como a característica essencial da humildade é fazer-se identificar sempre carecente de aprimoramento, enquanto se luta por adquiri-la, as farpas da inveja não se cravam no seu corpo e as disputas infelizes não vicejam.

Ante o esforço para a fixação da humildade legítima, a cizânia não consegue proliferar, isto porque é muito mais produtivo ser tachado de ingênuo ou tolo, porém pacífico e cordato, a dúctil e lúcido, no entanto, combativo e promovedor da discórdia.

Não esqueças que mesmo no Colégio Galileu, não poucas vezes esse tóxico letal foi identificado, pernicioso, pelo incomparável Senhor, que, não obstante o alto patrimônio da Sua elevação, teve que enfrentá-la com energia e humildade.

Vigia, Espírito dedicado, nas nascentes do labor que desdobras, na tarefa empreendida, e sê daqueles cujo serviço pode prosseguir sem tua cooperação, embora não possas marchar sem ele, por indispensável à tua elevação.

Oferece a quota do teu trabalho, compreendendo que no cômputo geral a importância de cada um está na medida do esforço despendido, nunca em relação à função exercida.

Impossível fulgir a jóia não houvesse sido esse brilho precedido pelo esforço do garimpeiro ignorado, que se adentrou pela mina perigosa a buscá-la.

A pérola pálida, a refulgir, ostenta sua beleza graaças ao estoicismo do mergulhador, que desceu às águas abissais para arrancá-la da ostra ergastulada nas rochas submarinas.

No trabalho renovador ao qual te afervoras, não te olvides dos que atuam nas funções modestas, todavia indispensáveis ao serviço que desdobras.

O rei não poderia rodear-se de conforto e grandeza sem o concurso do operário humilde que lhe ergueu o trono, ou da cozinheira que lhe sustenta a manutenção do equilíbrio orgânico. E a estabilidade do seu império estaria sempre ameaçada não fosse a fidelidade dos que o mantêm, vigilantes e muitas vezes ignorados.

A cizânia nasce sempre no seio da vaidade que se faz nutrir pela presunção.

Esquece, portanto, os títulos e valores a que te apegas, pois que eles nada valem diante d'Aquele a quem serves ou a quem procuras servir.

A obra do bem tem passado sem ti; e depois que passes, ela prosseguirá passando.

Reage à cizânia, impedindo que ela te domine no pensar, no falar, a fim de que não se desdobre através do agir.

Examina o íntimo do Espírito para que as mentes geratrizes da cizânia, vitalizadas pelo pretérito infeliz e corporificadas em grupos de perturbadores do Mundo Espiritual, não encontrem na tua mente açulada o campo para as cogitações da censura injustificada, aos que não podem ser iguais a ti, quer estejam abaixo ou acima do teu nível de produtividade. Não olvides, que ao mais esclarecido é exigida maior dose de tolerância, de compreensão e de misericórdia.

Quantas vezes o amigo, habitualmente fiel, em se voltando para agredir não se encontra enfermo? Nesse momento, não há outras alternativas senão piedade e socorro para ele.

Se desejas realmente, como apregoas, que cresça o trabalho do Cristo, não faças perniciosa distinção entre os servidores, não sugiras separativismos, não confrontes mediante opiniões que criam ciúmes ou açulam vaidades vãs pelo elogio gratuito, indisciplinado e improcedente, porque todo coração é maleável à palavra da bajulação dourada como todo Espírito é acessível à referência azeda da impiedade, ao licor embriagante da perversão.

Mantém, por tua vez, o compromisso de doação da palavra amiga e estimulante, quanto da advertência gentil, a fim de que possas prosseguir, seguro, na diretriz do equilíbrio. Recorda que foi a cizânia dos homens que levou Jesus à cruz, através da invigilância de um companheiro enganado.

Eu porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá ser condenado no juízo. Mateus: 5-22.

A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Cap. IX - Item 6.

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