segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Como enfrentar o ódio

 

Ainda em 2009, Felipe Neto se tornou um fenômeno da internet no país. Seu conteúdo, agressivo mas bem-humorado, se direcionava inicialmente às tendências da época, mas logo se voltou também à política, em especial ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT). No entanto, com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a crescente aproximação da extrema direita ao poder e o recrudescimento de discursos de ódio contra minorias, Felipe passou a questionar suas convicções.

Em Como enfrentar o ódio, ele retrata seu processo de tomada de consciência política — tão semelhante ao de milhões de brasileiros — e o papel do ódio em sua vida, primeiro como força propulsora de sua carreira e depois como ferramenta de que ele próprio se tornou vítima, em especial durante o governo de Jair Bolsonaro. Entrelaçando sua história aos principais acontecimentos dos últimos quinze anos e oferecendo uma perspectiva única sobre a internet e seu papel na manipulação dos usuários, Felipe nos convida a usar a boa comunicação para combater o obscurantismo, o retrocesso e o ódio que assola a sociedade.







"COMO FAZER AMOR"




Gabriel García Márquez

—Então o que vamos fazer?
—O Amor.
—Tem certeza?
—Sí.
—Bem, vou me despindo.
—E por que você está tirando sua roupa?
—Então, para fazer.

—Quem te disse que você tem que se despir para FAZER AMOR?
—Pois que eu saiba é assim que se faz.
—Não, essa não é a única maneira de fazer Amor.

— E como então?
— Apenas deixe a roupa vestida e conversemos até cansarmos, riamos por nada e por tudo, olhemos devagar até tentarmos decifrar.
Comigo você não precisa se despir de corpo, mas de alma, apenas nos olhar até ficarmos sem palavras, e ali, nesse instante em que as palavras são insuficientes para explicar o que sentimos, nesse silêncio infinito finalmente poderemos nos tocar. Percebes?

—Tocar-nos?
—Sim, tocar-nos com a ternura dócil de uma carícia que se expanda docemente até morrer num abraço.
—Ai, que lindo.
—Olha, deixa eu segurar sua mão?
—Sím.
—Sente? essa é uma das maneiras de fazer amor.

É sobre isso.

Você apenas deixe a roupa vestida e vamos conversar até cansar, vamos só olhar a boca, os cílios, os lábios por um tempo e se o beijo for necessário virá sem pedir licença.

Vamos conversar até conhecermos todas as nossas memórias, até sabermos os nossos segredos mais profundos, apenas deixe-me olhar para você até o mais extremo e requintado deleite, deixe-me ver a ALMA até o cansaço, até que estes olhos se rendam e me obriguem a baixar as pálpebras me incitando a dormir.

—E você vai forçá-los a ficar abertos?
—Sim, para te olhar a noite toda...
Só você "




Sigam a minha outra rede: https://www.instagram.com/kassapaerivaldo?igsh=MXB2aTI3d2FqcHppNg%3D%3D&utm_source=qr

Origem  da imagem: https://www.gettyimages.com.br/fotos/de-m%C3%A3os-dadas

Amor é síntese

 


 O espelho


"Esse que em mim envelhece

assomou ao espelho

a tentar mostrar que sou eu.


Os outros de mim,

fingindo desconhecer a imagem,

deixaram-me, a sós, perplexo,

com meu súbito reflexo.


A idade é isto: o peso da luz

com que nos vemos."


Mia Couto

terça-feira, 30 de abril de 2024

O Sagitário que tinha medo de Amar



Já me habituei a ocupar toda a cama quando vou dormir, a abrir as pernas sem sentir ninguém do meu lado, a acordar por mim sem que alguém me peça algo que já não me apetece dar a meio da noite, a levantar-me e tomar banho sozinho e durante o tempo que quiser, a preparar o meu pequeno almoço com a toalha húmida enrolado na cintura, a cantar em voz alta sem que me mandem calar porque lhes dói a cabeça, sem que me digam que não passo de um egoísta, sem que me virem as costas cuspindo palavras de desprezo. Já me habituei a não ter de dar explicações a nenhum ser vivo e a escolher fazer o que gosto sem ter de pedir autorização a alma nenhuma, a cancelar encontros quase em cima da hora simplesmente porque me tornei dono do meu tempo e da minha vontade, a demorar-me onde quiser e a ir embora assim que me apetece dos lugares que me entediam ou não me dizem nada. Já me habituei às minhas coisas, a mim e à minha vida, ao meu silêncio e ao som da minha música, à cova no meu sofá e às migalhas de bolacha sobre a camisola, a ficar na minha companhia sem ter medo de estar só nem precisar da companhia de ninguém, a sentir e compreender que isso não é solidão, mas é tão-somente a alegria de poder ser feliz comigo mesmo sem precisar da presença de seja quem for. Há coisas que se aprende tarde, mas mesmo assim muito a tempo de vivê-las sem remorsos. Sem esquecimentos forçados. Sem quase nada, pois na verdade passaram a ser quase tudo.

texto retirado meu novo livro "O Sagitário que tinha medo de Amar"
Encomendas pelo e-mail josemicardteixeira@gmail.com ou por mensagem no Facebook ou WhatsApp

Faxina

 



“Estava precisando fazer uma faxina em mim... 

Jogar fora alguns pensamentos indesejados,

tirar o pó de uns sonhos,

lavar alguns desejos que estavam enferrujando...

Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais.

Joguei fora ilusões, papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei...

Joguei fora a raiva e o rancor nas flores murchas guardadas num livro que não li.

Peguei meus sorrisos futuros e alegrias pretendidas e as coloquei num cantinho, bem arrumadinhas.

 Fiquei sem paciência!

Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito, mágoas de uma amiga sem gratidão, lembranças de um dia triste...

Mas lá havia outras coisas... belas!!!

Uma lua cor de prata... os abraços... aquela gargalhada no cinema, o primeiro beijo... o pôr do sol... uma noite de amor. 

Encantada e me distraindo, fiquei olhando aquelas lembranças.

Sentei no chão, joguei direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou.

Peguei as palavras de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima - pois quase não as uso - e também joguei fora!

Outras coisas que ainda me magoam, coloquei num canto para depois ver o que fazer, se as esqueço ou se vão pro lixo. 

Revirei aquela gaveta onde se guarda tudo de importante: amor, alegria, sorrisos, fé… 

Como foi bom!!! 

Recolhi com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, perfumei na esperança, passei um paninho nas minhas metas e deixei-as à mostra.

Coloquei nas gavetas de baixo lembranças da infância; em cima, as de minha juventude, e... pendurado bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar... e de recomeçar...”


________Martha Medeiros


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Torna dócil

 




 “Se não estivesse fora de moda...

Eu iria falar de Sinceridade.

Sabe, aquele pensamento antigo

de fidelidade, respeito mútuo...

e outras coisas mais.

A admiração pelas virtudes, aceitação dos defeitos...

E sobretudo, o respeito pela individualidade.


Se não estivesse tão fora de moda...

Eu iria falar em Amizade.

O apoio, o interesse, a solidariedade de uns

pelas coisas dos outros e vice-versa.

A união além dos sentimentos

e a dedicação de compreender para depois gostar.


Sabes uma coisa...

Sinto-me feliz por estar tão fora de moda.


Mia Couto


Fonte da imagem: https://i.pinimg.com/originals/0c/d2/4d/0cd24db123de55b8d45dae95d542091d.png