terça-feira, 30 de abril de 2024

O Sagitário que tinha medo de Amar



Já me habituei a ocupar toda a cama quando vou dormir, a abrir as pernas sem sentir ninguém do meu lado, a acordar por mim sem que alguém me peça algo que já não me apetece dar a meio da noite, a levantar-me e tomar banho sozinho e durante o tempo que quiser, a preparar o meu pequeno almoço com a toalha húmida enrolado na cintura, a cantar em voz alta sem que me mandem calar porque lhes dói a cabeça, sem que me digam que não passo de um egoísta, sem que me virem as costas cuspindo palavras de desprezo. Já me habituei a não ter de dar explicações a nenhum ser vivo e a escolher fazer o que gosto sem ter de pedir autorização a alma nenhuma, a cancelar encontros quase em cima da hora simplesmente porque me tornei dono do meu tempo e da minha vontade, a demorar-me onde quiser e a ir embora assim que me apetece dos lugares que me entediam ou não me dizem nada. Já me habituei às minhas coisas, a mim e à minha vida, ao meu silêncio e ao som da minha música, à cova no meu sofá e às migalhas de bolacha sobre a camisola, a ficar na minha companhia sem ter medo de estar só nem precisar da companhia de ninguém, a sentir e compreender que isso não é solidão, mas é tão-somente a alegria de poder ser feliz comigo mesmo sem precisar da presença de seja quem for. Há coisas que se aprende tarde, mas mesmo assim muito a tempo de vivê-las sem remorsos. Sem esquecimentos forçados. Sem quase nada, pois na verdade passaram a ser quase tudo.

texto retirado meu novo livro "O Sagitário que tinha medo de Amar"
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