sábado, 31 de agosto de 2013

A Casa Materna (uma descrição literária perfeita)

   
         Estava estudando e encontrei um descrição literária perfeita. Linda!! Para quem um dia teve uma mãe, para quem um dia teve uma mãe que tinha uma casa, para quem tem o privilégio de ter uma memória cheia de doces lembranças segue o texto:
 
Vinícios de Moraes
 
          Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão tem uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias, que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.
          É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. o assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.
          A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta, de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto à escada há um Tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo qua passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.
          Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta - pois não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficam os guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe porque queima às vezes uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.
          A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como que se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas e as mãos filiais ainda mais unidas em torno à grande mesa, onde já agora vibram também vozes infantis.
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Testemunhos

 
De Jonana de Ângelis
Por Divaldo Pereira Franco
     Aspiras pela ascensão espiritual, que te parece difícil.
     Contemplas as alturas libertadoras, e sentes vertigens.
     Anelas pelos acumes, e lutas, repassando pela tela mental as dificuldades que tens enfrentado e os problemas que te afligem.
     Sentes que o vale te asfixia, e a multidão que ali se movimenta te atormenta.
    A medida, porém, que galgas as ásperas encostas, percebes que esse é um cometimento isolado, imolador.
   Vês, à distância, os amigos que se candidataram a subir contigo e ficaram na retaguarda da comodidade.
    Constatas que as energias se te exaurem e vês as feridas nas mãos, nos pés e as dilacerações nos sentimentos.
    É natural que assim te aconteça.
    A vida, para expressar-se, arrebenta os invólucros onde jaz adormecida.
    Todo parto, que enseja a vida, proporciona dor.
    A semente sofre, esmagada no solo, a fim de libertar a espécie que nela dorme.
    Da mesma forma acontece com as tuas ânsias de evolução.
    Atingirás o cume, não o duvides, porém, assinalado pelos testemunhos que a subida te exige.
    Mede-se a grandeza de um ideal pela capacidade de sofrimento e de paz que demonstra aquele que o apresenta.
   Os homens grandes são volumosos e de alta estatura, enquanto que os grandes homens são identificados pelos seus referenciais de amor, de abnegação, de sacrificio, de idealismo nobre.
    É impossível abraçar um ideal, no mundo, passando incólume à agressão, a sevícia, à calúnia, à urdidura da infâmia.
    Por enquanto, e ainda por muito tempo, os grandes homens ver-se-ão a sós, incompreendidos, fora do círculo dourado da ilusão.
   Não estranhes, pois, o que te acontece nas paisagens íntimas: tristeza insatisfação, soledade.
   Fosse diferente a ocorrência, e estarias a soldo da mentira, da corrupção, jamais dos ideais libertadores.
   Quando te resolveste por crescer e alcançar as elevadas planuras, ansiavas pela felicidade.
   Anotas que estás em solidão, porém essa é com Deus.
  Testemunha a fertilidade do teu ideal cristão aos tíbios, a fim de que eles se estimulem, e se resolvam por ascender também.
   Quando lograres a vitória, atraí-los-ás. Por enquanto, testemunha e insiste.
   Jesus asseverou:
   - ... E quando eu for erguido (na cruz) atrairei todos a mim. (João. 12-32)
  Não reclames, nem receies.
  Segue em paz!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O amor é isto

 
Rubem Alves
Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação.
De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo,
o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição.
Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor.
Porque o amor é algo que não se tem nunca.
É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera.
E quando ele volta, a alegria volta com ele. 
E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência,
pela alegria do reencontro.
Imagem retirada do site: http://capelinhasaofrancisco.blogspot.com.br/2010/06/adeus-meu-amigo. html

domingo, 25 de agosto de 2013

Se eu fosse eu - Clarice Lispector


O Desapego dos Objetivos




Agarrar-se a objetivos também é um obstáculo ao desapego que merece destaque.

Não é o fato de possuir objetivos que é problemático, mas sim a força com a qual a pessoa se agarra a eles, a identificação com os objetivos que perseguimos. O grande sábio chinês Tranxu já escrevia: "quando o arqueiro mira o alvo por puro prazer, ele dispõe de todas as capacidades. Quando mira o alvo para obter um aro de bronze, fica nervoso. Quando quer ganhar um prêmio em ouro maciço, torna-se cego, vê dois alvos, fica fora de si. Sua competência não diminuiu, mas ele está simplesmente dividido pelo prêmio que procura receber. Ele pensa mais na vitória do que em atingir o alvo, e a necessidade de ganhar o esvazia de seu poder".
 
Eis uma descrição precisa do perigo de nos mantermos agarrados demais aos objetivos que perseguimos. Ater-se à realização desses objetivos mais do que a tudo nos enfraquece. A angústia e o medo pode se infiltrar em nosso espírito. A paz não pode mais reinar, a felicidade se afasta de nós. Ir em busca de um objetivo e se desapegar ao mesmo tempo é a solução. É preciso está aberto ao fato de que talvez se deva modificar seus objetivos, renunciar a algumas metas,  mudar.
 
A não permanência da vida demanda essa capacidade. Um estudo sobre a noção de esperança evidenciou que esse sentimento é a propriedade característica daqueles que se permitem mudar de objetivos sem se repreender e desenvolvem a capacidade de seguir em frente se desapegando.


Esse trecho foi tirado do livro O Desapego de Rosette Poletti e Barbara Dobbs. Um livro espetacular sobre o assunto. Com direito até a caderno de exercícios.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Segundo Grande Elo

Para quem leu Horizonte Vermelho e Sob a Égide da Cruz, livros psicografados pela médium Elizabeth Pereira, está sendo lançado o novo livro psicografado por ela: O Segundo Grande Elo. Com certeza mais um grande livro. Não vejo a hora de conseguir um volume e começar a ler. Segue um trecho que pesquei do facebook da médium:
 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Deus e eu no Sertão (linda!!!!)

Victor e Leo
 
Nunca vi ninguém
Viver tão feliz
Como eu no sertão

Perto de uma mata
E de um ribeirão
Deus e eu no sertão

Casa simplesinha
Rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir

Deus e eu no sertão

Das horas não sei
Mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão

Trabalho cantando
A terra é a inspiração
Deus e eu no sertão

Não há solidão
Tem festa lá na vila
Depois da missa vou
Ver minha menina

De volta pra casa
Queima a lenha no fogão
E junto ao som da mata
Vou eu e um violão

Deus e eu no sertão

sábado, 17 de agosto de 2013

Pensando...


Hoje, diante de uma situação que estive envolvida, fui levada a refletir sobre as grandes dificuldades no nosso processo transformação espiritual. Como as coisas externas  prendem a nossa atenção e fazem com que esqueçamos completamente de nós mesmos!

Nós espíritas, não por sermos melhores, mas pelo fato da  vivência do espiritismo nos levar diariamente a lembrança da importância de mudar, de nos melhorarmos, de vivenciar o evangelho, enfim, a prática espírita nos levar a uma autocobrança  constante,  terminamos nos tornando mais atentos a  esses momentos de dispersão  tão comuns no nosso dia a dia.

Esquecemos  de estar  presentes em muitos e muitos momentos.  Nos  afastamos de nós mesmos levados pela vaidade de termos conquistado alguns saberes, pela sensação de poder quando nos encontramos em algumas posições, que pensamos ser de tanta importância e diante de Deus nada valem, principalmente, somos levados para bem distante de nós mesmos pelo apego, seja o apego às pessoas, seja o apego aos bens materiais, seja, principalmente, o apego às máscaras que criamos para cada situação em que vivemos. Às  vezes, são tantas máscaras que esquecemos quem somos verdadeiramente. Esquecemos de nossa essência, que nos aproxima de Deus!

Penso que Jesus, na sua infinita sabedoria, já sabia a que esse descaso com o nosso autoconhecimento ia nos levar e, por esse motivo,  nos deixou o famoso Sermão dos Oito “AIS”, para não nos esquecermos da importância de nos conhecermos e sermos autênticos. Nele, no sermão,  Ele nos alerta para termos cuidado com a hipocrisia e em cada “AI” Ele nos chama atenção para um tipo de máscara que carregamos, de uma forma ou de outra. É um trecho importante dos ensinamentos de Jesus, porque nele vemos quanto é importante tomarmos consciência de quem somos nós, tomarmos consciência da existência dessa centelha divina que se encontra perdida entre esse emaranhado de eus,  que fomos criando ao longo da nossa caminhada e, principalmente, tomarmos consciência que nosso objetivo principal é chegarmos próximo de Deus  e enquanto não nos desfizermos   desses disfarces , enquanto não entendermos  que a astúcia não é sabedoria, não chegaremos a ELE.

Vale a pena ler esse sermão e refletir sobre o que estamos fazendo da nossa vida, da nossa prática espírita, do nosso processo evolutivo.
Áurea Ribeiro
Imagem retirada do site: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=10672

sábado, 10 de agosto de 2013

Que poema lindo!!!!


Mário Quintana.

Por favor não me analise,
Não fique procurando cada ponto fraco meu,
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu
Ciumento exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese,
É uma integração de dados,
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
Ninguém consegue abraçar um pedaço,
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito, amor.

A Serpente e o Sábio

 

Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa.
Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:
 
- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
 
A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas peseguiam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:
 
- Mas, minha irmã, ouve um engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Os Mensageiros. Ditado pelo Espírito André Luiz. FEB, 1944.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Jiddu Krishnamurti fala sobre o sofrimento

 
Pergunta: Qual é o caminho mais curto para nos livrarmos das nossas preocupações e dissabores e ressentimentos e alcançar a felicidade e a liberdade?
 
Krishnamurti: Não há um caminho mais curto; mas os próprios ressentimentos, preocupações e dissabores libertam-nos se não tentarem fugir-lhes através do desejo de liberdade e felicidade. Dizem que querem liberdade e felicidade porque os ressentimentos e os dissabores são difíceis de suportar. Portanto estão apenas a fugir deles, não compreendem porque eles existem; não compreendem porque têm preocupações, porque têm dissabores, ressentimentos, amargura, sofrimento, e alegria transitória. E uma vez que não compreendem, querem conhecer o caminho mais curto para sair da confusão. Eu digo, tenham cuidado com o homem que lhes mostra o caminho de saída mais curto. Não há saída para o sofrimento e para a aflição exceto através desse próprio sofrimento e dessa própria aflição. Esta não é uma declaração difícil; compreendê-la-ão se reflectirem sobre ela. No momento em que pararem de tentar fugir compreenderão; não podem senão compreender, porque então já não estão enredados em explicações. Quando todas as explicações tiverem cessado, quando já não tiverem qualquer significado, então existe a verdade. Ora vocês estão à procura de explicações; estão à procura do caminho mais curto, do método mais rápido; contam com práticas, com cerimoniais, com a mais recente teoria da ciência. Tudo isto são fugas. Mas quando realmente compreenderem a ilusão da fuga; quando estiverem integralmente a confrontar a coisa que cria conflito dentro de vocês, então essa própria coisa libertá-los-á.
 
Ora a vida cria grandes perturbações em vocês, problemas de posse, sexo, ódio. Portanto dizem, “Deixa-me encontrar uma vida superior, uma vida divina, uma vida de não-posse, uma vida de amor.” Mas a vossa própria luta por uma vida assim é apenas uma fuga dessas perturbações. Se se tornarem conscientes da falsidade da fuga, o que só podem compreender quando há conflito, então verão como a vossa mente está habituada a fugir. E quando tiverem parado de fugir, quando a vossa mente já não estiver à procura de uma explicação, que é apenas uma droga, então isso mesmo de que estavam a tentar fugir revela o seu pleno significado. Esta compreensão liberta a mente e o coração do sofrimento.

domingo, 4 de agosto de 2013

O rio e o oceano

 
Osho
 
Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme  de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas,  o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos  povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar  nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você  pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo  desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de  desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é  renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem !!
Avance firme e torne-se Oceano!!!