domingo, 25 de maio de 2014

Estou farto de me agarrar


Uma vez havia uma aldeia de criaturas no fundo do leito de um grande rio cristalino. A corrente do rio passava silenciosamente por cima de todos eles, ricos e pobres, bons e maus. Cada criatura a seu modo, se agarrava fortemente às plantas e pedras do leito do rio, pois agarrar-se era seu modo de vida e resistir à corrente era o que cada um tinha aprendido desde que nascera. 

Uma das criaturas disse por fim: 'Estou farto de me agarrar. Embora não possa ver com meus próprios olhos, espero que a corrente saiba para onde está indo. Vou soltar-me e deixar que ela me leve para onde quiser. Se me agarrar, morrerei de tédio'. As outras criaturas riram-se e disseram: ' Louco! Se você se soltar, essa corrente o lançará sobre as pedras e sua morte será mais rápida que a causada pelo tédio!' 

Mas ele não lhes deu ouvidos, soltou-se e foi lançado sobre as pedras. Com o tempo, como ele se recusasse a voltar a se agarrar, a corrente o levantou, livrando-o do fundo pedregoso, e ele não se machucou mais. As criaturas exclamaram: ' Vejam, um milagre! Uma criatura como nós, e no entanto voa! É o Messias que chegou para nos salvar!' E ele disse: ' Não sou mais Messias do que vocês. O rio tem prazer em nos erguer à liberdade, se ousarmos nos soltar. Nosso verdadeiro trabalho é essa viagem, essa aventura!'

Trecho do livro Ilusões - Richard Bach

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