quarta-feira, 18 de junho de 2014

A origem das testemunhas


"Foi sobre o transfundo de hostilidade ao sexo e ao casamento por parte dos principais teólogos e, em particular,  dos papas que o celibato compulsório foi impingido aos sacerdotes católicos. Os primórdios do ataque celibatário ao corpo são encontrados já nos séculos iniciais de nossa era, embora esse desenvolvimento só fosse determinado por lei tardiamente e, mesmo assim, em dois estágios: primeiro em 1139, quando o Papa Inocêncio II declarou a ordenação clerical um impedimento destrutivo. O que significava que a ordenação e o casamento eram mutuamente exclusivos; todo o casamento por parte dos sacerdotes depois dessa data foi invalidado. A Igreja tinha então um instrumento nas mãos para impedir o casamento dos padres; mas depois obteve um outro instrumento de controle: no Concílio de Trento (1545-63) criou-se uma cerimônia formal obrigatória para contrair-se o casamento. Até então o casamento não exigia formalidades, ou seja, as pessoas podiam se casar em segredo, contraindo casamentos válidos sem sacerdotes ou testemunhas.  Ao estipular que o casamento ocorresse perante o pastor local e testemunhas, a Igreja impedia que homens que se tivessem casado em segredo se tornassem padres. Assim, depois de 1139 era impossível para os padres se casarem, e depois de Trento era impossível para os homens casados tornarem-se padres.  Depois da época em que os padres podiam se casar, veio a época dos casamentos sacerdotais clandestinos e perseguidos.  Depois de Trento o concumbinato passou a ser a única saída, uma opção triste mas não raramente escolhida. A história do celibato foi conturbada, não só para aqueles que a iniciaram e a desenvolveram como também pra os pessoalmente atingidos. Para muita dessa pessoas, sobretudo para as mulheres, significou um desastre."

Trecho do livro: Eunucos pelo Reino de Deus de Uta Ranke ~Heinemann

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