Solange Maia
Não ache
que você consegue me entender com meia hora de prosa.
Sou tal qual moringa d’água.
Simples à primeira vista, como uma boa cerâmica, mas quem me vê assim, só
querendo matar a sede, só de passagem, não faz idéia da trajetória do meu
barro, nem das tantas vezes que desejei mudar o meu destino.
Sou a contra-história, o anti-herói, estou além da superfície. Sou as mãos que
me moldaram, as infindas voltas no torno em busca da forma ideal, a descoberta
de que não existe forma ideal, sou os fragmentos indesejáveis que foram ficando
pelo caminho, os que ainda carrego comigo, sou o que seca devagar, no tempo, o
que desidrata, encolhe, retrai, sou o que finalmente amadurece, o menos
quebrável, menos frágil. Sou a antítese, o que estatela, o que fragmenta, o
contrário, o que acolhe, o que reserva...
Sou o som seco, o estampido, a percussão. Sou a música do Uirapuru, sou a
orquestra de barro.
Sou exposta ao tempo, sou o ar que contenho, a água que conservo, o fogo que me
endurece, a terra de onde vim...
Não ache que olhos que só tem sede vão me ganhar.
Sou de quem me decifra.
E não sou uma só.
Sou tantas....
Não ache que olhos que só tem sede vão me ganhar.
Sou de quem me decifra.
E não sou uma só.
Sou tantas....
Imagem retirada do blog: http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2013/05/ utilidade-simplicidade-e-o-charme- das.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário