segunda-feira, 18 de março de 2013

Pássaros Feridos


Existe uma lenda acerca de um "pássaro" que só canta uma vez na vida,
com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra.
A partir do momento em que deixa o ninho,
começa a procurar um espinheiro-alvar,
e só descansa quando o encontra.
Depois, cantando entre os galhos selvagens,
empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido.
E, morrendo, sublima a própria agonia
e despede um canto mais belo que o da cotovia e o de rouxinol.
Um canto superlativo, cujo preço é a existência.
Mas o mundo inteiro para ouvi-lo
e Deus sorri no céu.
Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento ...
Pelo menos é o que diz a lenda.
O pássaro com o espinho cravado no peito segue uma lei imutável.
Impelido por ela, não sabe o que é empalar-se, e morre cantando.
No instante em que o espinho penetra
não há consciência nele do morrer futuro.
Limita-se a cantar e canta até que não lhe sobra vida
para emitir uma única nota.
Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito,
nós sabemos.
Compreendemos.
E assim mesmo o fazemos...
Colleen McCullough – na abertura do livro pássaros feridos

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