Dolorosa,
sem dúvida, a união considerada menos feliz. E, claro, que não existe
obrigatoriedade para que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou o peso
de alguém, ponderando-se que todo espírito é livre no pensamento para definir-se,
quanto às próprias resoluções. Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos
casais jungidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de
construir a verdadeira libertação.
Indiscutivelmente,
os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da Vida; todavia, antes
que a vida os registre por fora, grava em nós mesmos, em toda extensão, o
montante e os característicos de nossas faltas.
A
pedra que atiramos no próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas
permanece conosco na figura de sofrimento. E, enquanto não se remove a causa da
angústia, os efeitos dela perduram sempre, tanto quanto não se extingue a
moléstia, em definitivo, se não a eliminamos na origem do mal.
Nas
ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias; no entanto, é também dentro
delas que somos habitualmente defrontados pelas mais duras provações. Isso
porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase sempre, no
companheiro ou na companheira da vida íntima, os reflexos de nós próprios.
É
natural que todas as conjugações afetivas no mundo se nos figurem como sendo
encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de
educação, cujo prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir. A
existência física, entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do
tempo, e assim como o aluno nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos
ornamentos exteriores do educandário em que se matricula, o espírito encarnado
nenhum proveito recolheria do casamento, caso pretendesse imobilizar-se no
êxtase do noivado.
Os
princípios cármicos desenovelam-se com as horas. Provas, tentações, crises
salvadoras ou situações expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que se
nos recapitulam oportunidades e experiências, qual ocorre à semente que,
devidamente plantada, oferece o fruto em tempo certo.
O
matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso não impede de que
os dias subsequentes, em sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os
resultados das próprias criações que deixaram para trás.
A
mudança espera todas as criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a
renovação nos aprimore.
A
jovem suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos casos será
talvez amanhã a mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades enormes
para a consecução da felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave foi, no
passado - em existências já transcorridas -, a vítima de nós mesmos, quando lhe
infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou inconsequência,
convertendo-a na mulher temperamental ou infiel que nos cabe agora revelar e
retificar. O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira, para os
laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o homem
cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a carregar todo um calvário
de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma.
Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências que já se
foram - a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe desfigurou
o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete
tolerar e reeducar.
Toda
vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste sexual,
ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois - somente depois -
surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à
frente de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos
pontos em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de
contas certas, mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência,
tolerância e misericórdia, para que se refaça ante as leis do destino. A união
suposta infeliz deixa de ser, portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário
bendito, onde o espírito equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção,
aceita, sempre que possível, o companheiro ou a companheira que mereceu ou de
que necessita, a fim de quitar-se com os princípios de causa e efeito,
liberando-se das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre
si mesmo, para os domínios da luz.
Pelo Espírito Emmanuel/ Médium: Francisco Cândido Xavier/Do livro: Vida e Sexo
Imagem retirada do site: http://bemqueeuqueria.blog.terra.com.br/category/sem-categoria/
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Há uma célebre frase de Sartre que diz que o inferno são os outros, ou seja, não fosse pelo outro, nossa vida seria mais leve. Defendo, porém, que nossas dificuldade em viver com o outro está baseada na nossa dificuldade de viver consigo mesmo. Mas é inevitável viver com o outro - e aqui vai outra frase célebre, de Tom Jobim, " é impossível ser feliz sozinho". Viver com outra pessoa é um grande exercício de evolução espiritual. Além de nos possibilitar ver as nossas próprias limitações, permite ajudar o outro a superar suas dificuldades. Não é um processo fácil, mas é possível, se houver doação e ação de ambas as partes. Mais do que o amor romântico, do que o "felizes para sempre" , é uma experiência multifacetada, com alguns caminhos que podem ser árduos, mas que, no geral, pode ser a melhor coisa a ser feita em toda uma vida.
ResponderExcluirÉ verdade, Aline. Tudo está dentro de nós. Outro dia assisti uma palestra sobre autoconhecimento. Na abordagem feita pelo palestrante, ele chamou nossa atenção para uma questão muito interessante. Dizia ele que quando nos deparávamos com determinadas atitudes de algumas pessoas e essas atitudes provocavam em nós reações de raiva, inveja, ciúmes e outras coisas mais não era o outro que estava nos agredindo, mas, na verdade, apenas aquela situação acionava dentro da gente uma situação vivida na nossa infância e isso era que causava o mal-estar, ou seja, o processo todo acontece apenas dentro da gente e por investirmos tão pouco no nosso autoconhecimento colocamos sempre a culpa no outro. Por exemplo, alguém sofreu uma situação de abandono na sua mais terna infância. Na idade adulta sempre diante de qualquer situação em que ele recebe um não ou se encontra diante de uma ameaça de perda qualquer essa pessoa vai sentir ciúmes, medo, raiva, abandono. Mas não é o outro que está fazendo isso com ela. Na verdade, ela está acionando aquela situação mal resolvida na infância, que está causando toda essa turbulência em seu íntimo. Por isso é muito importante conhecermos essas nossas “arestas”, para saber quais são nossas limitações e assumirmos a responsabilidade por nós mesmos, sem culpar o outro. Acho que isso resolveria muitas dificuldades nos relacionamentos de um modo geral. Quanto a “ser impossível ser feliz sozinho”, acho que só podemos ser feliz com o outro se soubermos primeiro “ser feliz sozinho” , caso contrário, estaríamos colocando a responsabilidade de nossa felicidade nas mãos dos outros e isso não seria legal. bjs
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