O comportamento dócil, carinhoso, sofisticadamente gentil de muitos cristãos, que chegam mesmo a falar com extrema suavidade, não se identifica muita vez com a sua autêntica personalidade; assim se comportam por algumas razões explicáveis...
O misticismo religioso é como o verniz: embeleza e encanta apenas por fora; e toda religião que não fora compreendida na sua essência filosófica e científica acaba por oferecer somente a capa; muitos há, portanto, que não se inteiraram da profundeza científica-filosófica de sua religião e, por isso, estão por aí na condição de adornos de sua religião, seja ela qual for.
Outros adotam tal comportamento por ignorância: acham que mudar a tonalidade da voz, amainar os gestos, modificar atitudes pueris e externas já é interpretar uma transformação moral que, na verdade, só virá mesmo com muita luta, sacrifício, renúncia, serviço constante na caridade, e assim mesmo com o dealbar do tempo.
Outros, ainda, por humildade; outros mais por frustração; imitam os autênticos, os que já alcançaram a condição de madureza moral sem perderem a própria personalidade; têm vontade ser como estes e os imitam.
Outros, finalmente, por vaidade extrema, encontram na bajulação o estímulo para o seu autodeslumbramento. E bajuladores, criadores de deuses de carne e osso, forjadores de ídolos de pano é coisa que não falta em época nenhuma e em parte alguma; pelo menos onde imperar a ignorância...
Sendo eles humanos, porém, sua máscara cairá, se for falso esse comportamento.
Eles agradam visualmente, encantam o ambiente cristão, adornam, enfim, como as flores; são muito parecidos com as margaridas com que enfeitam os altares; mas só enfeitam; nada mais, nem perfume têm...
Não nos entreguemos a tais disparates, companheiros.
Convocados pelo Cristo à renovação integral, segundo o roteiro de moral e trabalho legado por Ele, não acreditemos no expediente ingênuo das falsas aparências, porque estas logo desaparecem quando surgem os testes de promoções, e até nós próprios então, diante da capa que caiu, ficamos profundamente desapontados perante o que realmente somos, num contraste assustador ante o que pensávamos ser.
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Trabalhe, sirva, ame, ajude, perdoe, mas sempre sinceramente, sem escapulir da naturalidade, resvalando-se para o misticismo e o resultado será outro, bem melhor e maior.
Se sua fé religiosa é o altar, não seja você apenas UM PUNHADO DE MARGARIDAS.
Iron Junqueira
do livro Pelo Clarão da Janela
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