quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Encontros e Desencontros do Amor



Arthur da Távola
(os trechos em vermelho são meus)



Cada encontro está carregado de perda.
Ou de perdas.

Mas por que deixamos ser assim?!

As vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e são felizes.
Ao fim da felicidade, um deles chora.
Ou fica triste.
Ou baixa os olhos.
Ou é invadido por uma inexplicável melancolia.
É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro.

Ao fim todos choram, ou ficam tristes, ou baixam os olhos, ou são invadidos por uma inexplicável melancolia, porque todos amam e amam muito. Se essa perda se esconde no deslumbramento de cada encontro é por falta de cuidado com o que se ama. Não se concebe que uma perda escondida se sobreponha a um amor verdadeiro seja ele entre amigos, casados, solteiros, amantes, namorados. Por que deixamos ser assim?!

O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores.
Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua cabeça, você está tendo um desencontro.
Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas é alguém com quem você se desencontra.
Aquela a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você tenha com as causas da sua admiração por ele.
A pessoa que só pensa naquilo em que vai falar e não naquilo que você está dizendo para ela é alguém com quem você se desencontra.
Alguém que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, é alguém desencontrado de você.
Cada desencontro é perda porque é a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto.
É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite.

Se são tantos desencontros por que não cuidamos mais dos nossos poucos encontros, que são tão importantes em nossa vida? Como pode uma amizade profunda se acabar em meio a uma perda escondida em um deslumbramento? Por que deixamos ser assim?!

A própria vida é uma espécie de antessala do grande encontro(com o todo? o nada?).
Por isso talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatórios da penetração na essência DO SER.
Mas por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda.

Se desencontros são exercícios, se as perdas são exercícios para penetrarmos na essência e essência é amor, por que o exercício não é de amor? Por que permitimos que os ruídos externos macerem nossos encontros de forma tão irremediável? Por que deixamos ser assim?!

E no ato de sentir-se feliz associa-se a ideia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa.
A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.
A tristeza feliz.
Tristeza feliz é a que só surge depois dos encontros verdadeiros, tão raros.
Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de interesse para interesse.
Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carências e às certezas anteriores aos fatos. É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada.
Quem se alegra demais se distancia da felicidade.
Felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do silêncio do que da festa.
Felicidade está perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.
É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia que se instala após os verdadeiros encontros.
Há sempre uma despedida em cada alegria.
Há sempre um "E depois? após cada felicidade.
Há sempre uma saudade na hora de cada encontro.
Antecipada.

Por que deixamos ser assim?!


Disso só se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser.

E só deixamos de estar feliz para ser feliz se não deixarmos se perder nossos encontros tão raros. Livremos nossos encontros dos ruídos externos, valorizemos os sentimentos fraternos verdadeiros, porque a perda escondida no deslumbramento de um encontro não pode acontecer quando o verdadeiro amor se instala.
Por que não deixamos que seja assim?!

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