sábado, 17 de janeiro de 2015

Saudade inexplicável


Rubem Alves
(do universo à jabuticaba)

Velhice é saudade...
Isso explica que haja jovens e mesmo crianças que,
tendo vivido só um punhadinho de anos, já são velhos.
É que a saudade pode florescer já nas manhãs...
Percebi, então, que a velhice não era coisa nova.
Ela tinha morado sempre comigo.

Eu tinha saudade sempre, mesmo sem saber do que.
Saudade sem saber do que pode parecer contrasenso,
pois a saudade é sempre saudade de alguma
coisa: de um rosto, de um lugar, de um tempo passado.
Você nunca sentiu isso?

Uma saudade inexplicável de algo que não sabe
o que é? A saudade aparece, então, como tristeza
no seu estado puro, sem objeto.

Quando você sentir isso, não se aflija. É que os
seus olhos estão andando pelos bosques misteriosos
onde nasce a poesia.

São os bosques da saudade. Todos os poetas já
nascem velhos...

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