Falamos de amor tantas vezes, mas
confundimos tudo quando tentamos analisar nossos sentimentos confusos, possessivos
e efêmeros. Poucos de nós conseguimos vislumbrar um verdadeiro amor, porque amar só se aprende amando e o nosso
exercício de amar envolve posturas tão doentias e viciosas que em vez de do nos
aproximarmos de sua verdadeira prática nos afastamos cada vez mais dela.
Com essa proximidade do Natal, o
primeiro sem minha mãe, tenho pensado em
tudo que ela me ensinou. Uma pessoa tão simples!! Um olhar distante observaria
poucas possibilidades de poder educar ou ensinar bem as coisas necessárias para
vencer no mundo. Mas olhando com o coração
podemos ver o poder de educar e ensinar as coisas necessárias para vencer o mundo: o amor e a resignação. Lições
inesquecíveis!
Sem ela eu não teria ido tão
longe com essa minha história de vida
tão bagunçada!
Imagine que desde o primeiro
segundo eu já aprendi muito sobre a vida, pois por ocasião do meu nascimento a
minha mãe biológica morreu no parto, em uma fazenda distante de qualquer
socorro, e na aflição para conseguir salvá-la a parteira apenas me pegou e
colocou em uma rede próxima de onde ela, minha mãe biológica, estava. Só sete horas depois de tudo consumado
foi que a minha tia perguntou: e a menina?! Essas sete horas de silêncio e abandono têm um
reflexo muito importante na pessoa que
sou hoje. Talvez não tenha sequer conseguido sair delas ainda.
Depois disso fiquei com meus vós
maternos, porque eles não permitiram que
meu pai me desse a um estranho. Mas como eles não tinham tempo para cuidar de
mim, chamaram uma pessoa para ser minha
baba. Digo chamaram porque era um tempo que não se contratava uma baba, mas
apenas se chamava uma filha de um morador da fazenda para trabalhar sem
salário, só por roupa e comida. Foi nessa ocasião que a minha mãe entrou em
minha vida. A partir daí ela passou a servir, a vida inteira, a uma família extremamente ingrata, sem receber
nenhuma remuneração e nenhuma gratidão, mas com uma fidelidade e um amor
incomparável. Cuidou de mim com tanto amor, com tanto carinho que nem a minha
mãe biológica teria conseguido, já que
ia ter outros cinco filhos para se preocupar se viva fosse. Foram inúmeras as
noites em claro comigo, principalmente quando tive poliomielite e fiquei ano e
meio sem andar. Sempre ao meu lado nas lutas
e nas dificuldades, que não foram poucas.
Certa feita, ela já com 70 anos,
por ocasião da sua primeira internação em um hospital, ela me contou uma
história que me marcou para sempre. A história de uma prova de amor silenciosa.
Ela falou, que nos primeiros anos de
minha infância, a mãe dela adoeceu e
como ela, a mãe, morava distante ela
teria que me deixar e ir embora para cuidar dela. Ela disse que viveu um grande
dilema, pois amava muito a mãe dela , mas ao mesmo tempo que me via tão frágil,
tão pequena e tão só não tinha coragem de partir. Isso me lembrou “a escolha de
Sofia”. Ela continuou contando que optou por mim, mas a vida inteira até aquele
momento carregava uma culpa muito grande no coração por não ter cuidado da mãe.
A minha mãe foi o maior exemplo
de amor e renúncia que conheci. Me sinto honrada e grata a Deus por ter tido a
oportunidade de ter sido tão amada.
Mas ela me deixou a imensa responsabilidade de amar diferente sem
sentimento de posse, sem necessidade de cobrança, amar sem esperar nada em
troca, amar com a grandeza de um coração capaz de perdoar e esquecer as dores
da alma.
Sempre no natal ela cantava a
música noite feliz inteirinha...
Espero que onde ela esteja nesse
natal possa cantar noite feliz para muitos, já que antes na nossa jornada solitária ela
cantava só para mim...
Áurea Ribeiro
lindo texto, linda a sua mãe! Sei o que é exemplo materno, minha mama me deixou faz 1 ano e 10 meses... O vazio é grande, mesmo eu sendo casado e tendo uma filha... DEUS te abençoe!
ResponderExcluirlindo texto, linda a sua mãe! Sei o que é exemplo materno, minha mama me deixou faz 1 ano e 10 meses... O vazio é grande, mesmo eu sendo casado e tendo uma filha... DEUS te abençoe!
ResponderExcluirFernando Maringo, muito obrigada!
ResponderExcluirMãe faz falta, muita falta mesmo, mas eles continuam do outro lado orando e cuidando de nós.Abraços. Áurea